O NOME DO JOGO
The name of the game
Will Eisner
Tradução de Marquito Maia
172 páginas
Devir, 2003
As pessoas que têm a falsa e preconceituosa ideia de que quadrinhos são coisa de criança deveriam ler as histórias do lendário quadrinista Will Eisner. Entre os trabalhos premiados do artista, estão obras voltadas para o público adulto. O nome do jogo pertence a esse grupo.
Através de três famílias de imigrantes judeus — os Arnheim, os Ober e os Kayn —, o autor cria uma história de ambição e luta por status, em que o casamento é um jogo para obter riqueza e vantagens sociais. Os ricos querem garantir o futuro da família através de casamentos e herdeiros, os menos afortunados querem riqueza e posição social. Não há espaço para divórcios e falências financeiras, deve-se manter as aparências, mesmo com a falta de dinheiro e os adultérios. A bebida e o cigarro são o consolo.
Para nós, o casamento era, antes de mais nada, um jogo. Havia casamentos ruins e havia casamentos bons. Casar com um igual era ruim. Casar com alguém de fora de nossa religião ou de outra raça era pior. No entanto, casar com uma garota rica (se você fosse um rapaz) ou casar com um homem bem-sucedido (se você fosse uma garota) era bom.
Acima de tudo, a família à qual a gente se unia era o mais importante. Unir-se a uma família melhor posicionada socialmente elevaria o nível da sua. Isso providenciaria “conexões” e você seria motivo de inveja entre os vizinhos, especialmente pelo fato de você se dirigir a seus parentes usando apenas o primeiro nome (p. 2).
Nem todos estão dispostos a participar do jogo matrimonial. A idealista e corajosa Rose Arnheim se casou por amor com o pobretão Aron Kayn. Ela quer romper com o mundo de riqueza e mentiras da alta sociedade, mas o marido dela sente-se tentado a seguir as tradições dos Arnheim em troca de conforto e estabilidade financeira. O autor encerra a história de forma irônica e inesperada.
A perfeita união entre blocos de textos e quadros de imagens dá ritmo e profundidade à narrativa. A parte textual dá voz a um narrador que se encarrega de contar o histórico das famílias, bem como situar o leitor no ambiente sócio-econômico em que se passa a ação, através de flashbacks e informações sobre personagens secundários.
A arte de Will Eisner é impressionante. Com alguns traços, ele consegue expressar toda a raiva, frustração e dor que os personagens sentem.
O nome do jogo é uma HQ comovente, surpreendente e irônica sobre a busca de riqueza e posição social. Está no mesmo nível de qualidade das melhores sagas familiares da literatura contemporânea.
Dressa sheeik
04 de setembro de 2012 - 18:05
quando esse livro foi escrito?