Livros

Ocaso

O pôr do sol é o momento de descobertas e revelações

– 07/11/2009

OCASO
Contos de entreluz
Ricardo Timm de Souza
88 páginas
AGE, 2009
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Ocaso é o momento em que o sol se põe, quando “o choque entre as luzes moribundas do dia e os focos nascentes das luzes da noite contribui para a criação de uma atmosfera indefinível, sem certezas prévias”. Em sentido figurado, é algo que caminha para o fim, ruína ou morte. Para Ricardo Timm de Souza, autor dos vinte contos que compõem a antologia, ocaso é também um momento de descobertas e revelações.

Assim como o menino do conto “O coelho”, o autor vai compondo a sua obra com muito cuidado. “A paisagem vai tomando forma. Com cuidado infinito, cada detalhe na proporção exata: uma falha poderia fatal.” As palavras são criteriosamente escolhidas, cada uma delas tem o seu lugar, o encaixe exato. Não pode haver ruídos nas frases, do contrário a narrativa não consegue envolver o leitor. As descrições não devem cansar quem lê as histórias, mas ajudar a construir os cenários em que será revelado algo que se esconde por trás das preocupações e frustrações do cotidiano, geralmente uma imagem de intensa beleza.

Nas histórias de Ocaso uma gata encontra o merecido descanso depois de uma vida de abandono (“Grubiru”), um pequeno circo de animais domésticos amestrados traz de volta as cores a uma pequena vila “onde apenas a poeira era onipresente” (“O circo”), manchas estranhas mostram o temor do desconhecido e a incrível capacidade de adaptação que a humanidade possui (“Kik”), os excluídos e marginalizados encontram um momento de celebração e alegria (“Festa”), a ida até a caixa de correio se transforma em aventura (“A carta”) e um menino é um dos protagonistas de uma cena comovente entre os apressados passageiros do metrô (“Pássaro no metrô”).

Os momentos de magia também se fazem presentes na obra. Mais precisamente em dois contos. Quando o sol está se pondo, os corredores de um hotel se transformam em um labirinto e os funcionários se tornam seres encantados (“O hotel”). Um menino tem um breve encontro com um ser jurássico e tido como extinto (“Dinossauro no lago”).

No conto “A retirada”, o dilúvio bíblico ganha uma nova dimensão, somente as crianças e os animais são poupados. Em “A rua”, o dia e a noite fazem parte de um ciclo ininterrupto, assim como a vida e a morte. Enquanto os trabalhadores das fábricas e lojas se retiram para o descanso de mais um dia de trabalho, os noctívagos vão aos bares em busca de “promessas e virtudes etílicas”. Nessa cidade onde casarões e veículos abandonados vivem nas sombras, “o cemitério e o jardim da infância se encontram e se entrecruzam na humanidade do tempo”.

Apesar das poucas páginas, o livro não é para ser lido em uma única sentada. O leitor deve se deixar envolver pela prosa do autor, que é agradável de ler, e ir descobrindo as imagens que são reveladas apenas com o declínio das luzes. Para aqueles que gostam da releitura, novas descobertas poderão ser feitas.

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