A JANELA DE ESQUINA DO MEU PRIMO
Des Vetters Eckfenster
E. T. A. Hoffmann
Ilustrações de Daniel Bueno
Tradução de Maria Aparecida Barbosa
80 páginas
Cosac Naify, 2010
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O livro traz a última narrativa completa do autor. Originalmente escrita para a revista alemã Der Zuschauer (O Observador), A janela de esquina do meu primo difere dos trabalhos anteriores de Hoffmann por não ser uma história fantástica nem fantasmagórica, além de apresentar características realistas.
De teor autobiográfico, a obra mostra a visita do narrador a um primo doente. Assim como o personagem enfermo, Hoffmann sofria de uma paralisia crônica que provocava fortes dores, e estava sob os cuidados de um enfermeiro. Há referências a outras obras do autor, como O pequeno Zacarias, chamado de Cinábrio e O pátio de Artur.
Impossibilitado de se locomover, a única forma do paralítico interagir com o mundo exterior é através da janela de seu apartamento, localizado em frente a uma praça. “(E)ssa janela é meu consolo, aqui a vida alegre ressurgiu para mim e eu sinto reconciliado com o movimento incessante que me proporciona”.
Durante a visita do narrador, o primo doente, que também é escritor, vai ensinar ao visitante “as primícias da arte de enxergar”. Através de observações e reflexões sobre os frequentadores de uma feira na praça que fica em frente à sua janela, o enfermo ao primo o que se esconde na multidão amorfa. O personagem escritor levanta hipóteses sobre a identidade de algumas pessoas presentes na feira a partir da aparência física, das roupas, dos gestos e do que elas compram ou vendem.
Além de ser assunto da conversa dos dois primos, a feira pode ser vista como “uma imagem fiel da vida eternamente mutável”. Apesar do intenso movimento e do barulho, chega o momento em que ela deve acabar, morrer. “(S)ilenciam-se as vozes que se misturavam e confundiam num barulho desordenado, e cada posto abandonado pronuncia de maneira extremamente vívida: acabou!”.
Através da conversa entre os dois primos, o autor apresenta um pequeno painel social da cidade alemã de Berlim no século XIX. Entre os assuntos abordados estão o comércio, os costumes e as mudanças no cenário urbano.
O posfácio escrito pelo professor de teoria literária da USP Marcus Mazzari enriquece a leitura da obra. O ensaio traz informações sobre a vida de Hoffmann e o contexto histórico-social em que a narrativa foi escrita. Mazzari faz comentários sobre o estilo e o enredo de A janela de esquina do meu primo.
O ilustrador Daniel Bueno recria a praça descrita por Hoffmann com a técnica de colagem, a partir de imagens do século XIX. Pequenas partes da grande ilustração de Bueno se juntam ao texto para dar ao leitor a sensação de estar observando pela janela as pessoas descritas pelos dois primos.
O tratamento editorial dado ao livro pela Cosac Naify merece elogios. Além da bela capa dura, o texto da obra está bem distribuído nas páginas do livro. Nada de letras minúsculas e linhas apertadas. Isso torna a leitura do livro bem agradável. É praticamente impossível discordar da opinião do professor de literatura e crítico Modesto Carone, expressa na quarta capa: “Quem ler sem dúvida vai gostar”.
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