FORTUNATELY, THE MILK
Neil Gaiman
Ilustrações de Skottie Young
128 páginas
Harper USA, 2013
Livro infantil? Sim, mas adulto também pode (e deve) ler! Não há faixa etária para se render aos encantos de Fortunately, the milk (Felizmente, o leite, em tradução livre).
Certo dia, ao perceber que não há leite para o seu cereal matinal, um garotinho e sua irmã pedem que seu pai vá à loja da esquina. Após uma longa espera, ele chega em casa e, ao ser questionado sobre sua demora, diz que tem uma longa história para contar. Mas o que poderia acontecer com uma simples ida à esquina com o objetivo de comprar leite para o café da manhã dos filhos? Em se tratando de um livro de Neil Gaiman, uma grande aventura com direito a “wumpires” – seres do universo do autor que satirizam vampiros famosos de Hollywood –, piratas, alienígenas, dinossauros e viagens no tempo em uma “Bola-Flutuante-Transportadora-de-Pessoas”.
Segundo o pai, no caminho de volta para casa, ouviu-se um som curioso e, ao olhar para cima, viu-se um disco prateado pairando no ar. “Não é algo que se vê todos os dias”, admitiu, e foi então que algo peculiar aconteceu, fazendo com que o leite passasse por vários apuros enquanto ele viajava pelo espaço-tempo tentando voltar para casa. Na maioria das vezes, felizmente, o leite foi salvo, mas será que ele conseguiu levá-lo até sua casa? E será que as crianças acreditarão em todas as histórias mirabolantes que ele tem para contar?
O livro traz graciosas ilustrações de Skottie Young, renomado cartunista que já produziu belos trabalhos para Marvel, Cartoon Network, Warner Bros., entre outros. A história é leve, muito divertida e cheia de criatividade. O formato não é novidade para quem já acompanhou O guia do mochileiro das galáxias (Douglas Adams) ou Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll), por exemplo, em que cada nova tentativa de voltar para casa leva a um novo lugar, a uma nova situação inusitada, a uma nova aventura fascinante. Porém, a obra passa longe de ser mais do mesmo nas mãos de um autor com a imaginação de Gaiman. As aventuras são fantásticas, contadas com muita naturalidade e de uma singularidade que te fazem mergulhar fundo na história enquanto o mundo a sua volta é completamente esquecido. Assim como O oceano no fim do caminho, embora de maneira diferente, lembra-nos da infância, de como era fácil imaginar e de como é ter a criatividade à flor da pele.
Poderia passar horas aqui dizendo o quanto o livro é excelente, bem escrito, o quanto o livro é Neil Gaiman – para quem já conhece um pouquinho dele, sabe que seu nome poderia muito bem ser um adjetivo –, mas nada disso descreveria Fortunately, the milk adequadamente, porque ele é como uma sensação. É como tentar explicar seus motivos para gostar do seu doce favorito. Não há motivos, o que você sente enquanto o devora é o que descreve o quão delicioso ele é.
Ideal para quem ama fantasia. Infelizmente, ainda não tem tradução para o português. Entretanto, está à venda nas livrarias brasileiras – tanto em versão física, quanto digital. Uma prazerosa oportunidade de resgatar a imaginação que vive, talvez meio enferrujada, em cada um de nós e colocá-la para fora sempre que temos a oportunidade de contar uma história.
Helloise Mota, 24 anos, pernambucana. Engenheira química e estudante de computação gráfica. Descobriu que gostava de escrever em uma aula de inglês, na qual resenhou Edward Mãos de Tesoura. Não parou mais desde então.
Texto publicado na edição 1 da revista Eels.
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