A COMÉDIA MUNDANA
Três novelas policiais sacanas
Luiz Biajoni
480 páginas
Língua Geral, 2013
Comprar: Cultura
Três pelo preço de uma! O livro reúne três novelas policiais que têm como cenário uma cidade corrupta do interior paulista. Lá ninguém é inocente, todos escondem algo podre dentro de si. Os habitantes da cidade não têm escrúpulos quando querem satisfazer seus impulsos sexuais ou realizar suas ambições. Os títulos das histórias são excêntricos e podem chocar os mais puritanos: “Sexo anal – Uma novela marrom”, “Buceta – Uma novela cor-de-rosa” e “Boquete – Uma novela vermelha”.
Curiosamente cada uma das novelas começa com um personagem comunicando a outro que vai operar alguma parte do corpo. Nas três histórias, o procedimento médico indica que uma grande mudança está próxima de acontecer. Não apenas o corpo do personagem sofrerá mudanças, mas também seus sentimentos, sua vida familiar e sua condição sócio-financeira, entre outras coisas. Por exemplo, na novela “Buceta”, dois homossexuais veem na operação de mudança de sexo a chance de assumirem seu romance e viverem realmente como um casal. Já em “Sexo anal”, novela que abre o livro, uma operação de hemorroidas coloca a jovem jornalista Virgínia em um complicado triângulo amoroso.
Ao contrário de certas autoras best-sellers, Biajoni não usa o sexo de forma apelativa ou para enrolar o leitor. É na intimidade das quatro paredes que o leitor descobre o lado oculto e sombrio dos personagens. Na cama, os personagens revelam medos, traumas, ambições, preconceitos e mentiras, além de usarem o sexo como forma de humilhação, manipulação ou dominação. Na novela “Buceta”, a sedutora e perigosa empresária Monique Kurtz usa o sexo para dominar e manipular os homens poderosos e influentes da cidade. Já o marido Carlos, dominado e humilhado pela esposa, não consegue mais se sentir qualquer tipo de atração sexual por Monique. Carlos tenta compensar sua frustração com drogas e travestis.
Talvez alguns crimes presentes no livro possam parecer absurdos, mas não me surpreenderia se Biajoni dissesse em alguma entrevista que se baseou em casos reais para escrever suas novelas. A realidade consegue ser mais estranha e absurda do que a ficção. Vai dizer que nunca deu uma olhada naqueles famigerados jornais que “pingam sangue quando são espremidos”? Há um monte de histórias absurdas lá. E a última novela do livro, “Boquete”? É difícil imaginar um pastor gay utilizando a igreja como um ponto de tráfico de drogas. Todavia, não é impossível. Coisas piores são cometidas em nome da fé e dentro dos templos, basta haver fanatismo e um líder religioso sem escrúpulos.
Entre os vários personagens presentes no livro, o repórter policial Geraldo Assis é um dos que mais se destaca. Lendo as três novelas, o leitor acompanha a ascensão e a queda do personagem, além das tragédias e perdas que ele terá que superar. Visto como uma espécie de herói local, o repórter está muito longe de ser um santo. Geraldo cometeu alguns crimes no passado. Além disso, ele gosta de agredir e humilhar os criminosos. Para piorar, Geraldo trabalha para um jornal sensacionalista, que explora a dor e a miséria das pessoas. Segundo Beto, dono do jornal, os “leitores só querem saber é da miséria humana”.
O estilo de Luiz Biajoni é envolvente e viciante. O leitor irá devorar as quase quinhentas páginas em dois ou três dias. Nada de experimentações vazias ou de linguagem metida a vanguardista com floreios soníferos. O autor usa linguagem ágil e coloquial. Há também a presença de humor nas histórias, o que facilita a abordagem de certos assuntos, principalmente os ligados ao sexo.
E para encerrar uma curiosidade sobre a bela capa do livro. A mulher que aparece atirando em um homem, este está na contracapa, é Brigitte Montfort. Ela é protagonista da série de espionagem ZZ7, publicada no Brasil entre os anos 1960 e 1990. Brigitte é uma espiã a serviço da CIA na época da Guerra Fria. As ilustrações das capas da série foram feitas pelo artista José Luiz Benício, que fez mais de 300 cartazes de filmes, incluindo pornochanchadas e filmes de Os Trapalhões. A Brigitte que aparece na capa de A Comédia Mundana também é obra de Benício.
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