ainda era cedo
me lembro bem dos teus olhos de melão
não, não ponha o pé mais para a frente
não se aproxime se a minha presença lhe sugere medo
era engraçada a transferência de culpa naqueles dias
sabiamente esperada
como escolha própria, guarde-se com cuidado
também a não poupar feridas com a verdade:
o medo nunca foi meu
se o enxergas com a suavidade intensa dos dias ensolarados
tangível ele está
neste exato não limitado espaço físico
imerso em ti
quem continuamente acenará
por mais tempo na hora da partida?
do passear de nuvens que perdemos
a adiar a contemplação com os olhos
preenchimento da alma
a anular a permissão de adentrar-se
no território vizinho
que horas marcava o relógio
quando nos fechamos?
ventava ou era ameno o dia?
é estranho mas ainda perdura em mim
a necessidade de colecionar minutos
Roberta Santiago nasceu no Rio de Janeiro e mora há três anos em Porto Alegre. No Rio Grande do Sul, teve poemas expostos na Feira do Livro de Pelotas. Seu primeiro livro, intitulado Anotações sobre o tempo e as cidades, foi publicado em 2014. Atualmente está concluindo o projeto de seu segundo livro.
Texto publicado na edição 2 da revista Eels.
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