Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!
Tarda-lhe a Ideia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!
Tenta chorar e os olhos sente enxutos!…
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz e na que ardente o lavra
Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu em 20 de abril de 1884, no Engenho Pau d’Arco, Paraíba. Autor de um único livro: Eu (1912). Após a morte do escritor, em 12 de novembro de 1914, foram acrescentados mais alguns poemas ao livro, e o título passou a ser Eu e outras poesias. Cheios de lirismo e melancolia, os poemas utilizam um vocabulário científico. Os textos abordam temas como a morte, cemitérios e hospitais, entre outros.
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