Guarde seus aplausos, o presente e o sorriso falso
Só porque é março?
Descanse a maquiagem, os abraços, e as piadinhas quando passo
Não esquecerei o tapa, nem o roxo na cara,
Nem a falta de consideração
Quando todos os dias me maltrata
Não nasci mulher, mas tornei-me mulher
Eu não sou apenas um corpo
Nem objeto do seu desejo escroto
Nem rainha do lar
Nem das roupas pra lavar e passar
Nem dona do fogão
Nem troféu pra homem desfilar
Sou mulher, não sou anjo, muito menos intocável
Só não tente querer andar pelos meus calos
Sua boca logo calo e nem tente me silenciar
Não me venha com esse falso amor, nem seu papo fiado
Tem dias que sou princesa sem salto
Em outros, madame andando descalço
Tenho liberdade pra me reinventar
Na vida, na cama, no trabalho
E em qualquer lugar
Contrariando a sociedade
Hoje escolho minhas profissões
Inverto a história de tantas mães e não mães
Mulheres, guerreiras
E quem disse que somos indefesas?
Desconhece as forças que guarda uma alma feminina?
Azar de quem subestima
Quisera tu ter a força dessas meninas
Mulher-menina
Mulher tem sobrenome, coragem
Estilhaça medos da humanidade
Desbrava o mundo gritando sua liberdade
Quem disse que não posso?
Que não tenho querer?
Volte às histórias, aos livros, às revistas, acompanhe-me em vida
Verás o poder
Não é a maquiagem que nos faz
Não é o salto que nos faz ir além
Não é o cabelo que nos dita
Não é o corpo que nos embeleza
Não é comida que saboreia a vida
É a nossa existência
A voz que vos grita.
Jacqueline Nogueira Cerqueira, reside em Sapeaçu (BA) desde que nasceu. É poetisa e cronista, assina com o pseudônimo Jacquinha Nogueira. Com graduação em Letras Vernáculas (UNEB, 2013), é professora, pesquisadora literária e organizadora do Sarau Sapeaçu. Desenvolve nas escolas onde leciona o projeto A Poesia Vive. Tem poesias publicadas nas antologias O diferencial da favela: poesias quebradas de quebrada (2014) e Poesia Livre 2014.
Texto publicado na edição 2 da revista Eels.
Jaqueline
26 de julho de 2018 - 00:23
Muito bom. falou tudo, xará!!!
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