
Imagem: Vector Portal e Wkipédia.
Não adianta, não há como escapar, tem em todos os lugares. Na Europa e na Ásia, tem. Aqui na América do Sul? Também. Em todas as capitais de estado que passei, no Distrito Federal e em todas as cidades de todos os lugares que eu fui ou vou ir? Tem e vai ter também, claro. E aposto que em todos os lugares onde você já foi também tem ou vai ter. Podemos até fazer um exercício: pense em qualquer local de qualquer parte do planeta, pode ser calçada, rua, estrada, construção ou qualquer lugar onde circula o bicho-homem. Em todos os lugares onde o homem já foi, passou o Google Maps. Mas coitado do Google Maps: junto com a foto do lugar vai ter uma bituca de cigarro no chão. Aliás, é questão de pesquisa que nem o próprio Google consegue responder: bituca de cigarro não é lixo?
Que o cigarro faz mal, nem preciso lembrar, né? Milhares de substâncias tóxicas, carona para o câncer e um monte de outras doenças, problemão de saúde pública e tudo mais. Além de tudo isso, o que me espanta é que o resto do que me faz mal tem segmento ainda mais prejudicial para o pobre ecossistema em que vivemos e labutamos. E mais: não é problema meu como fumante, quem tem que cuidar disso são as políticas públicas. Sou eu cobrando do Estado a limpeza da sujeira que eu fiz.
É bom lembrar que a bituca de cigarro NÃO é biodegradável. Segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde) cerca de 1,6 bilhões de pessoas, algo em torno de 22% da população mundial, fumam, e cada uma delas produz em média sete bitucas por dia. É mais ou menos 12 bilhões de bitucas sendo descartadas por dia, muitas e muitas toneladas da sobra do nosso ato de fumar. Enquanto estamos aqui refletindo sobre isso, um bom volume de bitucas está sendo jogado na calçada, sarjeta, jardim, vaso ou coisa parecida, e cada uma delas vai demorar no mínimo cinco anos para se decompor contaminando tudo por onde passa, entupindo tubulações e bueiros e, obviamente, deixando um rastro de sujeira. Triste esporte de lançamento que impacta diretamente a nossa rotina, sendo ou não fumante.
Difícil pensar em não ter bitucas no chão. Não acho que somos tão evoluídos para isso. Mas da mesma forma que cobramos políticas públicas para limpeza e conservação dos espaços que nós mesmos sujamos, louvo algumas iniciativas de puxar as orelhas de quem descarta suas bitucas no chão. No Paraná, além de uma ação educativa em estabelecimentos comerciais que vendem cigarros, existe um projeto de lei que responsabiliza os fabricantes pelo descarte correto das bitucas, mais ou menos como deveríamos fazer com lâmpadas e pilhas usadas. E cuidado, amigo fumante, ao passear e jogar seu cigarro no chão em alguns países: em Taiwan é cadeia; no Japão, é multa; e no Butão, já nem deve ter mais bituca no chão. Isso mesmo: lá não tem bituca, porque simplesmente o governo do Butão tem lei para abolir o tabagismo.
Bom ou ruim, ainda é possível fumar, o que não é possível é a sobra disso ir para qualquer lugar. Na condição de ex-fumante, ainda acho que a melhor dica para não jogar bituca no chão é parar de fumar. A dica é simples; a atitude, nem um pouco fácil. Mas, além de evitar o consumo e a produção de milhões de bitucas, você poupa seus pulmões, os pulmões alheios e o seu bolso. E o Google Maps, quem sabe, um dia vai ter marcadores de locais onde o ser humano passa sem deixar suas bitucas de cigarro!
Mateus Araújo é ex-fumante, musico, professor e produtor cultural. Atualmente é colaborador do Sesc RS como agente de cultura e lazer.
Texto publicado na edição 1 da revista Eels.
ROBERTO FAÇANHA
23 de março de 2015 - 20:29
PROGRAMA BITUCA ZERO: mais de 6 milhões reutilizados em projetos de hidrossemadura em todo o Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=ZvIcHFvnOgw