Contos

Curtindo a madrugada/manhã

* Ouça o vídeo FREDERIC CHOPIN – NOCTURNES complete, enquanto estiver lendo.     Mens Tru ação Sim, eu como. Eu como beterraba. Beterrabas grandes e grossas. Sim, eu como o dia todo. Por quê? Desde os nove anos tenho vontades. Vontades incessantes de que saia sangue. De mim, da minha barriga. Desde os nove […]

– 15/06/2015

* Ouça o vídeo FREDERIC CHOPIN – NOCTURNES complete, enquanto estiver lendo.

 

Suco de beterraba

Imagem: Onsemeliot, Iwan Gabovitch, Artmaker e Ralph L. Watts.

 

Mens Tru ação

Sim, eu como. Eu como beterraba. Beterrabas grandes e grossas. Sim, eu como o dia todo. Por quê? Desde os nove anos tenho vontades. Vontades incessantes de que saia sangue. De mim, da minha barriga. Desde os nove anos como beterraba de 28 em 28 dias. Como três dias seguidos, sem parar. Somente beterraba. Desde os nove anos a vontade de que saia sangue de mim, de dentro de mim não cessa. Não acaba, sempre, sempre e sempre. Morrer eu não. Não quero. Querem me matar, mas minha força uterina é mais forte. Força que rege meu chakra coronário, movimenta meus músculos rígidos e formosos, que sai de dentro de mim, toda vez que como beterraba. Sai pelo ânus. Ânus o mesmo lugar que sinto prazer. O lugar de minhas fezes, meu sangue contínuo e pastoso. Ânus de pelos e de cera, ânus do meu ponto g, do meu clitóris extraordinário e mais do que extra cotidiano, ânus do meu lucro, aquoso e gemido. Pinto meu, pinto meu, entra em mim mais formoso do que o meu. Beterraba entra e sai, movimento gostoso e de graça. Graça essa que minha mãe não quer ouvir. Me faço ouvir, mais do que isso, me faço ver. Sou vistosa e cheio de qualidades. Pq? Pq eles pagam. Pq? Pq puta que pariu, pariu e não me aguentou mais. Estuprador meu, que foges mais longe do que eu. Existe alguém que me mata melhor do que eu? Triste? Vc. Que não sabe o prazer de dar o cu. Dar o ré no quibe. Viadinho não. Papai não gostava de ouvir seus amigos me elogiando dessa forma. Nem gostava de saber que eu gostava, eu gostava era de trepar com seus amigos caminhoneiros. Fortes, gordos e de pintos pequenos, mas e daí, não queria o pinto, queria o macho. De tanto querer, meu pai me deu o macho, mas me deu tanto, tanto. Que minha vontade foi realizada. Sangrei. Saiu de dentro de mim. Da minha barriga. Do meu sexo. Do meu PINTO. Isso só foi o inicio. Não quis mais parar de sangrar.

 

Stélio Constantino Barbosa, sul-mato-grossense, 22 anos. Artista independente com grande parte de sua produção artistica direcionada a pesquisas de gênero, sexualidades, diversidades culturais, relações corporais em várias áreas das artes cênicas.

 

Texto publicado na edição 2 da revista Eels.

Voltar ao sumário

Deixe um comentário

Nome *




* Campos obrigatórios

Newsletter

Cadastre seu e-mail e receba atualizações do site

Powered by FeedBurner

 

Livraria Cultura - Clique aqui e conheça nossos produtos!

 

 

Copyright © 2009 Literatsi. Todos os direitos reservados.
Powered by WordPress