Conhecido como poeta e tradutor de autores como Sylvia Plath e Walt Whitman, Rodrigo Garcia Lopes estreia na ficção com o romance policial O Trovador (406 páginas, Record, R$ 45,00). A obra é fruto de pesquisa rigorosa feita em biografias, livros de histórias, documentários, jornais de época e entrevistas. Além disso, o autor trata de questões históricas, sociais, morais e de identidade. Também aborda temas como filologia, corrupção, relações internacionais e colonialismo, e revela um capítulo pouco conhecido da História do Brasil.
A trama do romance de Rodrigo Garcia Lopes se passa no período de colonização do Norte do Paraná, destacando a “fase inglesa” da cidade de Londrina, que foi erguida a partir dos anos 1930 em função da atividade e dos interesses econômicos da empresa britânica Parana Plantations Limited.
Uma série de assassinatos acontece na região de Londrina. Na boca de uma das vítimas é encontrada uma tira de papel com uma palavra provençal também presente em um estranho poema enviado a Eduardo VIII, rei da Inglaterra. Para investigar a relação entre poesia e crime, é enviado ao Brasil o tradutor Adam Blake.
O que parecia ser apenas um assassinato decorrente de um triângulo amoroso entre funcionários se revela mais complexo e assustador. Qual a motivação do impiedoso assassino conhecido como O Trovador?
Trecho
— Companhia de terras? – perguntou.
Blake fez que sim.
— Da Inglaterra?
Blake balançou de novo a cabeça.
— Bem-vindo ao fim do mundo… Vai ver em que bela porcaria de cidade o senhor veio parar.
Blake riu.
— Não pretendo ficar muito tempo. Só vim resolver algumas coisas.
— É o que todos dizem. O jeito é se divertir. — A moça arrumou a mecha negra sobre os olhos e concluiu: — Bom, todo mundo é meio estrangeiro. A cidade é nova demais. O senhor fala português muito bem. O que faz da vida?
— Sou tradutor.
A moça continuou sustentando o olhar em direção a Blake. Parecia não ter entendido.
— Eu traduzo o que as pessoas falam ou escrevem — explicou Blake.
Ela deu uma tragada, soprando a fumaça para o teto.
— Ah, então é alguém que vive da palavra dos outros?
Blake fez um olhar surpreso para a moça e deu de ombros.
— Digamos que eu facilito a comunicação entre as pessoas que não falam a mesma língua.
A moça fez que entendia com um gesto de cabeça, bebericou o gim, passando a língua sob os lábios superiores. — Então veio pra cá para nada. Vai logo aprender que em Londrina só se fala uma língua.
— E qual seria?
A prostituta sorriu:
— Dinheiro.
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