O novo romance da escritora Luisa Geisler, Luzes de emergência se acenderão automaticamente (296 páginas, Alfaguara, R$ 39,90), chega às livrarias no mês de agosto. O livro traz uma narrativa sutil aliada a um humor desconcertante e a passagens cativantes. Tudo isso para falar sobre as incertezas do amadurecimento.
Henrique, ou Ike, é um garoto tímido que mora nos subúrbios de Porto Alegre com os pais. Ele se considera normal. Está na faculdade, trabalha meio período num posto de gasolina, tem namorada e amizades sólidas. A situação muda quando o amigo Gabriel sofre um acidente e é hospitalizado em coma. Após uma cirurgia de emergência, resta a Ike, aos amigos e à família de Gabriel aguardar a melhora do rapaz.
Perto do Natal, Ike começa a escrever cartas em sequência para o amigo hospitalizado. Nelas, como se fosse uma conversa, Henrique relata tudo o que acontece na ausência de Gabriel. Entremeando as cartas, há narrativas curtas que mostram os pensamentos dos outros personagens e se Henrique realmente sabe realmente sobre o que acontece ao seu redor.
Trecho
Canoas, 10/12/2011
Meu velho,
tu vai ler isso?
Esses dias eu vi café mofado. Foi bem no começo do mês. Queria poder ter tirado uma foto, te ligado. Tu ia curtir, acho. Eu nem sabia que café líquido podia mofar. Tinha cheiro de parede. Minha mãe riu, meu pai até agora não deve ter notado nenhuma diferença. A Manu fez um chilique, me chamou de porco e, antes que eu percebesse, ela tava com a cara se enchendo de lágrimas. Perguntou se eu seria pouco cuidadoso com o café do posto.
“Manu”, eu disse, “eu sou pago pra cuidar das coisas do posto”.
Ela chorou mais, as lágrimas iam descendo pelo rosto. Deve ser TPM. Ou sei lá, também, não gosto de pensar que é isso, porque ela anda tão irritada ultimamente que deve gostar de ficar menstruada. Mas chorou, disse que eu andava estranho, que eu precisava de um psicólogo, que eu não era mais a mesma pessoa. Tudo por causa do café com mofo. De boa, isso não é TPM.
Fora isso, tudo igual.
Agora me ocorre se teu cabelo, tuas unhas, teu sangue, se isso mofa. Faz tempo que eu não te vejo no hospital. Bastante tempo. Vamos nos falando,
Ike
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