CENAS DE UM MODERNISMO DE PROVÍNCIA
Drummond e outros rapazes de Belo Horizonte
O que acontece quando um movimento de vanguarda, de teor cosmopolita e que tende a fazer tabula rasa do passado, se depara com a matéria local, profundamente enraizada na história? Esta a pergunta que Ivan Marques, professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo, procura responder em Cenas de um modernismo de província (272 páginas, Editora 34, R$ 42,00).
Ao estudar a obra dos quatro autores mais representativos da literatura modernista produzida em Minas Gerais nas décadas de 1920 e 1930, o autor descobre — no gauchismo de Carlos Drummond de Andrade, na ingenuidade elaborada dos poemas de Emílio Moura, na deriva contínua dos contos de João Alphonsus e no lirismo fantasioso dos personagens de Cyro dos Anjos — os traços de uma cultura cindida entre atraso e modernidade, própria de uma cidade jovem como Belo Horizonte, erguida sobre uma economia marcadamente rural.
Com escrita enxuta e olhar agudo tanto para as particularidades dos procedimentos literários como para as questões socioculturais que as atravessam, Ivan Marques escreveu um livro notável, que amplia a visão do contexto cultural mineiro ao mesmo tempo em que ilumina o quadro mais abrangente do modernismo em nosso país.
A ESPANHA DE JOÃO CABRAL E MURILO MENDES
Por mais distintas que fossem suas visões de mundo — uma, marcadamente materialista, outra, surrealista e católica —, João Cabral de Melo Neto e Murilo Mendes constituem duas das mais poderosas linhas de força da poesia brasileira no século XX. Mas as diferenças entre eles nunca foram suficientes para ocultar as afinidades, como a afirmação de uma poética em que a imagem assume um papel central, além de um profundo amor pela Espanha.
Resultado de extensa e minuciosa pesquisa, realizada em arquivos espanhóis e brasileiros, A Espanha de João Cabral e Murilo Mendes (288 páginas, Editora 34, R$ 42,00) impressiona pela riqueza das informações que Ricardo Souza de Carvalho — professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo — recolheu e soube articular com argúcia, iluminando aspectos pouco conhecidos da relação desses dois grandes escritores com a cultura ibérica.
Valendo-se dos mais variados documentos — cartas, entrevistas, poemas, catálogos, revistas, dedicatórias —, muitos deles inéditos, o autor traça a trajetória de diálogos e amizades que os poetas brasileiras teceram com artistas e intelectuais como Joan Miró, Antoni Tàpies, Joan Brossa, Jorge Guillén e Rafael Alberti, entre outros. A arte, a história, o tempo e o espaço espanhóis também são matéria de reflexão neste livro, tornando-o uma obra de enorme interesse para os leitores da nossa poesia.
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