A motivação para escrever o livro Mind the gap (Vera Helena Rossi, 133 páginas, Patuá, R$ 25,00) veio de uma experiência vivida pela autora no metrô de Londres. Vera ficou impressionada com a mensagem recorrente de “Mind the gap… mind the gap… please, mind the gap between the train and the platform.” O estranho aviso fez a escritora associar a mente (mind) com o vão (the gap). De volta a São Paulo, quando estava no metrô, o aviso em português “Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma.” fazia Vera relembrar da associação de mente com vão.
Composto de vinte contos, o livro Mind the gap apresenta histórias cotidianas que não acontecem apenas no metrô. As narrativas também têm como palco o trabalho, o bar, o banco, o jornal. Vera Helena Rossi encontra no dia-a-dia o material para escrever suas anedotas que permitem compreender melhor as atitudes mais comum das pessoas. No prefácio da obra, o escritor e roteirista Pedro Amorós diz que a autora “revela o cotidiano, invertendo-se a ordem definida pelo presente, criando situações estranhas e desconcertantes. V. H. Rossi descreve, portanto, aspectos da vida cotidiana: a impossibilidade de felicidade em um mundo abarrotado de desilusão”. A obra possui um blog (contosmindthegap.blogspot.com).
Vencedora do concurso de contos Sesc On-line 1997 e finalista, com o romance Estamos todos bem, do VI Prêmio da Jovem Literatura Latino-Americana, Vera Helena Rossi é jornalista e tem participações na Revista Língua Portuguesa, no Portal Cronópios e na Revista Zunái.
Trecho do conto “As caixas de papelão da família A. Almedida”
Nossa casa, como se espera de uma casa, abriga um lugar por vezes sombrio, onde é guardado nosso passado, talhado em papéis, quinquilharias, objetos inúteis e mais um sem número de peças inutilizadas do cotidiano. Mantemos o local [que se resume a várias caixas de papelão desequilibradas no quarto dos fundos] intocável, atordoados com a sua existência, que, ainda assim, se exibe diariamente contra nossa vontade. Bem verdade, evitamos olhares diretos às caixas de papelão, empacotadoras do nosso pedaço inutilizado. Por vezes, entretanto, largamo-nos em espiadas rápidas e oblíquas sobre aquelas caixas: pequenas, grandes, inteiras, rasgadas, a quase rebentarem de passado.
O depósito de ontens nos imobiliza. Chega a ter cheiro, aquilo de pretérito que escondemos nos fundos da casa. Quando nos deparamos com a necessidade de revirar as caixas, adiamo-la a um futuro distante, indefinido pelo excesso de pó do lugar. Passados alguns dias, nos esquecemos da necessidade, e continuamos todos a seguir nossas vidas, distantes das caixas e do futuro do pretérito.
Vera Helena Rossi
18 de fevereiro de 2012 - 09:47
Caro Luiz Cardoso,
Muito obrigada pelo belo texto sobre o meu livro, e pela publicação de um trecho do primeiro conto.
Abraço grande,
Vera
Maria Saadd
08 de maio de 2012 - 10:34
Adorei o livro ! Tanto que li mais de 4 vezes!!! Vale a pena comprá-lo para te-lo na sua estante Fantástiaca escritora com trejeitos da Patricia H.