Henrique, ou Ike, é um garoto tímido que se considera normal. Está na faculdade, trabalha meio período num posto de gasolina, tem namorada e amizades sólidas. A situação muda quando o amigo Gabriel sofre um acidente e é hospitalizado em coma. Perto do Natal, Ike começa a escrever cartas em sequência para o amigo hospitalizado. Nelas, como se fosse uma conversa, Henrique relata tudo o que acontece na ausência de Gabriel.
O personagem mencionado, Ike, é protagonista do mais recente livro da escritora Luisa Geisler, Luzes de emergência se acenderão automaticamente, em que ela fala sobre as incertezas do amadurecimento. Com seus dois primeiros livros, Contos de mentira e Quiçá, Luisa ganhou duas edições seguidas do Prêmio SESC de Literatura, 2010 e 2011. A jovem escritora gaúcha foi incluída na antologia Os melhores jovens escritores brasileiros, organizada pela revista Granta em 2012. Na entrevista a seguir, Luisa Geisler fala sobre suas leituras – do que gosta e o que a influencia na escolha dos livros.
O que você está lendo atualmente?
Estou lendo o novo livro da Carola Saavedra, O inventário das coisas ausentes. Quero começar logo os livros dos vencedores do Prêmio SESC de Literatura (Parafilias, de Alexandre Marques Rodrigues, e Enquanto Deus não está olhando, de Débora Ferraz). Acabei não faz muito o Tudo o que tenho levo comigo, da Herta Müller.
Que tipo de livro te dá sono? E qual te tira o sono?
Livros com muitos adjetivos e advérbios me dão sono. Muitos autores insistem em dizer “ela era uma pessoa calada” ao invés de dizer algo como “eu era colega dela há seis anos e só conhecia sua voz da resposta da chamada”. São informações diferentes, que marcam os leitores de maneiras distintas. Não tenho nada contra advérbios e adjetivos, são necessários, mas muitas vezes servem como uma saída fácil. Quando tenho que lidar demais com isso sem que auxilie na história, dá sono mesmo. Me tira o sono livros que, ao terminados, deixam dúvidas e interpretações. Livros com possíveis ambiguidades, que me fazem querer reler imediatamente, para ver as próximas interpretações. Isso imortaliza o livro.
Quais eram os seus autores e personagens favoritos quando você era criança?
Acho que as séries juvenis, tipo Harry Potter, Desventuras em série, até mesmo O guia do mochileiro das galáxias e O diário de princesa (ninguém é perfeito, desculpem).
Quando percebe que não está gostando de um livro, você o abandona ou continua lendo até o fim?
Dou uma chance para o livro, “mais umas 50 páginas” ou algo assim. Se é um livro conhecidamente bom, procuro conversar com pessoas que já o leram para ver se passaram pelo mesmo problema. Como leio muitos livros por indicação, costumo ter aquela pessoa que me recomendou algo como uma referência. Mas, se mesmo assim, não tenho química com o livro, fecho e passo para o próximo.
Já se sentiu na obrigação de gostar de um livro, mas acabou não gostando dele?
Já comecei um livro com um “preconceito positivo”, que me frustrou. Muitas vezes começar gostando do livro é complicado justo por isso, porque aumenta as expectativas, então o livro tem que ser ainda melhor do que o esperado.
Um livro precisa ter mais de 500 páginas para ser profundo e complexo?
Não. Prolixidade dificilmente tem a ver com profundidade. Por exemplo, o Seda, de Alessandro Baricco, tem 128 páginas, passa voando, e nem por isso é superficial.
Qual a sua opinião sobre livros digitais? Acha que eles substituirão os livros impressos?
Acho que o livro impresso se tornará como o vinil é hoje, um artigo mais afetivo do que pelo seu conteúdo, sabe? Os livros impressos têm ido para esse lado, mais bonitos, bem feitos, de dar gosto. E mudar o suporte não muda o conteúdo, o livro digital segue sendo um livro. Tenho um Kobo e, confesso, há mais livros baixados do que lidos nele, mas não me arrependo nem um pouco. É excelente para viagens, pela portabilidade, pela variedade.
As premiações recebidas por um livro influenciam a sua decisão de ler ou não determinado título?
Influenciam no sentido de despertar curiosidade, permitir que eu conheça o livro. Não muda muito (ou eu gostaria de que não mudasse tanto) no de julgar se é um livro que vale mais a pena ser lido. Até porque premiações são poucas, não são tantos livros que surgem do nada das premiações. O que mais pesa mesmo são indicações de gente de confiança.
Você está na lista dos 20 melhores jovens escritores brasileiros da revista Granta. Na sua opinião, quais os três melhores jovens escritores brasileiros atualmente?
Acho excessivamente cedo (e o conceito de “jovem” é vago demais) para julgar isso. E são muitos.
No seu livro Luzes de emergência se acenderão automaticamente, um garoto calado escreve cartas para o amigo que está em coma. A leitura de algum romance epistolar teve influência na decisão de usar cartas para narrar a história do seu livro? Qual romance epistolar você considera o melhor?
A escolha se baseou no fato de que achava interessante o trabalho de linguagem que poderia ser feito dentro de cartas, no ato consciente de escrever. Me inspirei muito em A caixa preta, de Amós Oz, e no Gente pobre, de Dostoiévski.
Luisa Geisler e Paula Fábrio participam do Sempre um Papo | Literatsi - Livros e Literatura
24 de agosto de 2014 - 20:20
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