Nada é para sempre, tudo e todos acabam algum dia. Nada para o tempo, ele corre implacavelmente e corrói tudo. Essa entidade incansável e cruel é tema do livro de estreia da escritora Cristina Lasaitis, biomédica formada pela Unifesp. O livro Fábulas do tempo e da eternidade, lançado em 2008, reúne 12 contos de ficção científica e fantasia em que a autora explora as várias faces do tempo e a eterna dos homens em supera-lo.
A produção de Cristina Lasaitis não se limita ao seu livro de estréia. A escritora tem contos publicados em revistas e antologias. Para os entusiastas dos livros digitais, alguns contos da autora estão disponíveis na coleção Contos do Dragão, da editora Draco. Em 2011, lançou junto com o escritor Rober Pinheiro A fantástica literatura queer, coleção de contos de ficção científica, fantasia e terror dedicados à questão da diversidade sexual.
Atualmente Cristina faz o curso de Editoração na Universidade de São Paulo (USP). Além disso, a escritora mantém um blog, Anatomia da vertigem (cristinalasaitis.wordpress.com). Na entrevista a seguir, Cristina Lasaitis fala sobre suas leituras, ficção científica e a carta que recebeu da escritora Ursula K. Le Guin.
O que você está lendo atualmente?
Costumo ter várias leituras em andamento ao mesmo tempo, mas ultimamente tenho lido pouca ficção, por conta da faculdade de editoração. Tenho pego muitos livros teóricos. Atualmente leio um do Tzvetan Todorov, Introdução à literatura fantástica. E comecei também um livro que comprei como souvenir em minha viagem a Portugal, Breve história de Portugal, de A.H. de Oliveira Marques.
Que tipo de livro te dá sono? E qual te tira o sono?
Autoajuda me dá sono, com certeza, assim como romances feitos para serem best-sellers recheados de clichês.
Eu não consigo encontrar uma palavra que defina as obras que me tiram o sono, pois elas são muito variadas. Os livros que eu pego e não consigo largar são em geral, claro, muito bem escritos. Se forem de ficção, têm personagens inusitados e uma trama que me surpreende. Se for não ficção, geralmente é algum relato dramático ou ensaio envolvente.
Qual é o pior livro do mundo na sua opinião?
Não faço ideia, acho a vida muito curta pra desperdiçar com livros ruins.
Quando percebe que não está gostando de um livro, você o abandona ou continua lendo até o fim?
Depende do meu interesse no livro. Se é um livro teórico ou de não ficção sobre um assunto que preciso ou quero entender, vou até o fim. Por outro lado, se é uma obra de entretenimento que falha em me entreter, não me obrigo a terminar.
Já se sentiu na obrigação de gostar de um livro, mas acabou não gostando dele?
Por que eu me sentiria obrigada a gostar de um livro?
Já aconteceu de comprar um livro caro ou há muito desejado e acabar decepcionada, perceber que não valia o investimento… Mas se eu não investisse na leitura, como poderia saber?
Se tivesse a chance de conhecer qualquer escritor, vivo ou morto, quem você escolheria? O que diria ou perguntaria a ele?
Eu adoraria conhecer a Ursula K. Le Guin, que está vivíssima e produtiva, mas acredito que vai ser muito difícil surgir essa oportunidade, ela já está velhinha e não se afasta muito da casa dela, no Oregon. Apesar disso, acho que já disse a ela o que gostaria. Uma vez mandei uma carta dizendo que ela era responsável por despertar em mim a paixão pela literatura e que eu me inspirava nela como escritora, e ainda pedi que transcrevesse os versos que criou para meu livro preferido, A mão esquerda da escuridão. Quando recebi a carta dela em resposta quase desmaiei na porta de casa.
Qual foi o primeiro livro de ficção científica que você leu? O autor dele influenciou a sua escrita?
Eu tinha uns dez anos de idade quando li – ou devorei – O parque dos dinossauros, do Michael Crichton. Naquela ocasião, meu interesse era mais pelos dinossauros do que pela ficção científica, e acho o Crichton um bom escritor no padrão best-seller. Ele sabe como alimentar o interesse do leitor pela história. Apesar disso, está longe de ser dos autores mais influentes para mim.
Na sua opinião, qual o melhor escritor de ficção científica atualmente?
Se eu citar um nome, vou ser injusta, porque estou muito defasada quanto aos autores contemporâneos de ficção científica. Li pouquíssimo dos autores jovens que estão aí, então meus preferidos acabam sendo veteranos como a Ursula K. Le Guin e o Kim Stanley Robinson.
O que você diria às pessoas que consideram a ficção científica um gênero inferior?
Simplesmente: “Isso é preconceito seu”. 🙂
Junto com o escritor Rober Pinheiro, você organizou A fantástica literatura queer. A coleção trazia contos que uniam histórias de ficção científica, fantasia e terror com a militância pelo direito da diversidade sexual. No Brasil, a coleção A fantástica literatura queer foi a primeira do gênero. E no exterior? Você conhece alguma coleção ou antologia que tenha proposta semelhante?
Para a coleção chegamos a nos inspirar em antologias feitas no exterior, como The future is queer, organizada pelo Lawrence Schimel. A questão é que lá fora existem muito mais do que antologias, possivelmente um mercado inteiro no gênero LGBTQ science fiction & fantasy. Há grupos de escritores, como The Outer Alliance, e prêmios específicos, como o Lambda Literacy Award; enquanto no Brasil não tínhamos nada nesse sentido. Fico satisfeita em saber que a produção no gênero não parou com a Fantástica literatura queer, e que temos outros projetos muito interessantes vindo aí, como é o caso de Boy’s love – Histórias de amor sem preconceito, antologia estilo yaoi publicada pela Editora Draco.
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