Entrevistas

Lado L 2: Paula Fábrio

Autora de Desnorteio e ganhadora do Prêmio São Paulo de Literatura, a escritora Paula Fábrio fala sobre suas leituras e se concorda com o fato de o brasileiro ler pouco

– 08/08/2014
Paula Fábrio

Foto: Divulgação/acervo pessoal da escritora

Três irmãos viram mendigos e vivem em um casebre, reduto de seus delírios. Esse é um resumo do enredo do livro Desnorteio, que deu à paulistana Paula Fábrio a conquista do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria de melhor livro do ano de autor estreante com mais de 40 anos.

Formada em Comunicação pela Faap, Paula Fábrio foi redatora e livreira. Ela idealizou e dirigiu a Rato de Livraria, uma das últimas livrarias de rua com perfil independente em São Paulo. Atualmente, a escritora faz mestrado em Letras na Universidade de São Paulo (USP). O próximo livro da autora, Ponto de fuga, é inspirado em suas viagens e nas pessoas que conhecendo.

Na entrevista a seguir, Paula Fábrio fala sobre suas leituras, um pouco da experiência como livreira e se concorda com o fato de o brasileiro ler pouco.

 

O que você está lendo atualmente?

Vida querida, da Alice Munro; e um livro de teoria, Meta-história, de Hayden White.

 

O que te chama mais a atenção em um livro: a história ou a forma como ela é contada?

A forma me encanta, porque os temas são basicamente os mesmos desde que surgiu a literatura, a linguagem.

 

Qual o livro mais improvável que pode ser encontrado na sua estante? 

Os improváveis não costumam seguir para a estante (risos).

 

O brasileiro lê pouco ou lê mal?

A pergunta é complexa, e eu não sou especialista. Mas arrisco dizer que lê pouco, isso se confirma pelas baixas tiragens em nosso país, até mesmo dos best-sellers. Creio que as pesquisas dessa área ainda não têm estrutura sólida suficiente para dar conta da complexidade do tema. Por outro lado, como julgar se o brasileiro lê mal? Entretanto, há um sem-número de livros mais vendidos, do tipo de obra que não induz ao questionamento psicológico e social e não tem preocupação estética nenhuma; talvez isso desenhe um quadro de leitura não muito satisfatório em termos de qualidade. Por outro lado, não sei se confio na lista de mais vendidos. O que torna tudo ainda mais difícil de mapear. Agora há o Vale Cultura, que começou praticamente ontem, e movimentou algum dinheiro. Ainda é cedo para tirar conclusões a respeito.

 

Quando percebe que não está gostando de um livro, você o abandona ou continua lendo até o fim?

Depende do livro, se ele é ofensivo ou repulsivo (repleto de preconceitos nos dias de hoje, por exemplo), eu o abandono de imediato; se é apenas inconsistente, sigo mais algumas páginas a fim de compreendê-lo melhor, mas mesmo assim tendo a abandonar a leitura. Tudo isso porque a vida é muito curta, e há grande oferta de literatura de excelente qualidade para nos deliciar.

 

Já se sentiu na obrigação de gostar de um livro, mas acabou não gostando dele?

Algumas vezes, sobretudo quando o autor ganhou um Nobel, por exemplo. Mas já me liberei dessa preocupação, que por um lado também constitui um preconceito construído com a ajuda da academia, dos jornalistas e críticos. Depois de um certo tempo de vida, você aprende a ser mais livre.

 

Um livro precisa ter mais de 500 páginas para ser profundo e complexo?

Um copo de cólera, de Raduan Nassar, tem 84 páginas.

 

Qual a sua opinião sobre livros digitais?

Não tenho nada contra, creio que haveria aí uma chance de baratear o produto, mas não sei se o mercado aproveitará essa oportunidade. Pessoalmente, considero a plataforma digital muito desconfortável, prefiro o objeto impresso.

 

Se tivesse a chance de conhecer qualquer escritor, vivo ou morto, quem você escolheria? O que diria ou perguntaria a ele?

São muitos para escolher, com alguns eu até me casaria (risos). Mas prefiro não conhecê-los, compreendo que a obra de um autor é sua melhor parte, prefiro ficar com ela.

 

Você já foi livreira. Poderia falar um pouco sobre essa experiência e o impacto que ela teve sobre a Paula Fábrio leitora.

O impacto foi determinante na minha leitura, passei a ler mais e melhor, imagino. Isso porque conheci novos autores, vivos e mortos, e passei a compreender a literatura a partir de um espectro mais amplo, em todos os sentidos, não apenas no literal. E o principal, aprendi muito com meus clientes, que me contavam as histórias dos livros, de seus autores, a relação entre autores, suas percepções. Enfim, é como se houvesse quebrado o retrovisor do carro, e agora não fosse mais possível olhar para trás e reconhecer a Paula de antes daquilo tudo.

Comentários (1)
  1. Luisa Geisler e Paula Fábrio participam do Sempre um Papo | Literatsi - Livros e Literatura

    24 de agosto de 2014 - 20:22

    […] escritoras Luisa Geisler e Paula Fábrio são as convidadas do evento Sempre um Papo, que acontece no Sesc Vila Mariana (Rua Pelotas, 141, […]

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