
Foto: Divulgação/Acervo pessoal do escritor.
Os personagens criados pelo escritor paulistano Santiago Nazarian são no mínimo curiosos: uma suicida que se mata de uma forma diferente a cada capítulo (A morte sem nome), um jacaré de esgoto que narra um romance psicodélico (Mastigando humanos), um adolescente descolado que vai estudar em um colégio de monstros (Garotos malditos). Esses são apenas alguns dos seres que habitam histórias que misturam elementos da literatura existencialista com cultura pop e horror. Por essa mistura, os livros de Santiago Nazarian são classificados como existencialistas bizarros.
No mais novo livro do autor, Biofobia, o protagonista é um roqueiro decadente que se isola em uma casa de campo para lidar com seus demônios internos. O personagem entra em conflito com a natureza que o cerca.
Além de escritor, Santiago Nazarian é tradutor, roteirista e coladorador de diversos periódicos, como a Folha de S. Paulo. O escritor também tem um blog, Jardim Bizarro (santiagonazarian.blogspot.com.br). Na entrevista a seguir, Santiago fala sobre suas leituras, se ele conhece algum livro que poderia ser classificado como existencialista bizarro e romances com músicos decadentes.
O que você está lendo atualmente?
Estou numa fase de voltar a ler os colegas, os contemporâneos. Sempre é bacana saber o que está sendo feito, mas é preciso também intercalar, ou a gente acaba só lendo isso, visto a quantidade de pessoas que se conhece, com quem se cruza, que está lançando livro. Acabei de ler o livro de estreia do Rafael Gallo, Reveillon e outros dias, porque ia dividir uma mesa com ele na Flip, e foi uma grata surpresa. Contos cuidadosos e afetivos, sem pieguice. Agora estou começando O professor, do Cristóvão Tezza.
O que um livro precisa ter para prender a sua atenção?
Basicamente ser bem escrito… Mas nem todos os livros bem escritos prendem minha atenção, até porque sou bem dispersivo… Não sei, acho que preciso encontrar pontos de identificação; não é assim com todo mundo?
Um personagem precisa de quais características para ser marcante?
Precisa ser verdadeiro. Mais do que isso, eu não poderia generalizar.
Quando percebe que não está gostando de um livro, você o abandona ou continua lendo até o fim?
Muitas vezes não tenho a opção de abandonar, porque estou lendo a trabalho, para resenhar, traduzir ou fazer avaliação crítica. Nos momentos em que leio por prazer, abandono sem culpa.
Já se sentiu na obrigação de gostar de um livro, mas acabou não gostando dele?
Muitas vezes, tanto com os clássicos quanto com os contemporâneos exaltados, premiados, que eventualmente preciso ler como resenhista. Me sinto incomodado em não conseguir dar um “ótimo” para um livro que ganha o Man Booker Prizer, por exemplo. Mas preciso ser sincero comigo mesmo, antes de tudo, até porque nenhuma avaliação é indiscutível. E se estou sendo pago para escrever uma resenha, é porque querem minha opinião, não que eu reproduza o que já foi dito.
Se tivesse a chance de conhecer qualquer escritor, vivo ou morto, quem você escolheria? O que diria ou perguntaria a ele?
Acho que não gostaria de conhecer ninguém especificamente… Se admiro muito a obra, a pessoa não tem como se equiparar… E eu também não teria muito o que dizer…
A escritora Elisa Nazarian é sua mãe. Você e ela costumam ler e comentar o que cada um escreve?
Costumávamos. Mas minha mãe escreve mais esporadicamente. Há alguns anos que não trabalha em nenhum livro. Ela costumava ser minha primeira leitora, mas minha literatura também se afastou muito do universo dela, então ela só têm lido meus livros já publicados. Hoje minha primeira leitora é minha agente.
Qual o pior livro para se escrever uma crítica: aquele escrito por um amigo, inimigo ou parente?
Bem, eu não escreveria uma crítica profissional de nenhum dos três. E dos inimigos, eu nem leio. Mas já abalei amizades por dar minha opinião sincera, em particular, quando essa foi solicitada. Muita gente que manda originais e pede opiniões quer na verdade apenas elogios, ou indicações de editora. Busco ser sincero, delicado e construtivo.
Os seus livros recebem a classificação de existencialismo bizarro por misturarem elementos da literatura existencialista com cultura pop e horror. Dentre os livros que leu, você acha que algum deles também poderia ser classificado como existencialista bizarro?
Hum, boa pergunta. O Dennis Cooper é um escritor americano bastante underground, bem mais pesado do que eu, que tem essa pegada e é uma influência confessa. Aqui no Brasil tem um jovem escritor paulistano chamado Hugo Guimarães que poderia ser considerado também um existencialista bizarro, embora ele tenha uma carga mais sexual e menos voltada ao terror do que a minha. De toda forma, gosto de acreditar que eu esteja fazendo algo novo, diferente.
Em seu último livro, Biofobia, o protagonista é um roqueiro decadente de meia-idade que se isola em uma casa de campo e precisa lidar com seus demônios internos. Você já leu algum romance em que o protagonista é um músico decadente em crise? O que achou do livro?
Quando estava escrevendo Biofobia, li A visita cruel do tempo, da Jennifer Egan, que tem um pouco esse tema, mas não gostei do livro – o retrato do jet set americano dela não me interessa. Adorei o Grande irmão, da Lionel Shriver, em que o personagem é um músico de jazz decadente com obesidade mórbida, mas foi uma leitura mais recente, quando já havia entregue o livro para a editora. A influência acabou sendo mais uma entrevista que li com um músico verdadeiro, o Jamie Harding, do Marion, que era um cara muito talentoso, bonito, mas que nunca fez muito sucesso nem na terra dele, na Inglaterra, e acabou se perdendo feio nas drogas… E tem também muito de mim, claro, e da minha geração, de estar chegando próximo aos 40 e ver que as conquistas são todas relativas, os sonhos já menos possíveis. Não há mais a vida toda para acontecer… Fiz dessa frustração a minha conquista.
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